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sábado, 10 de abril de 2010

Um varginhense no 1.FC Köln (Colônia)



ZEZÉ - José Gilson Rodrigues, varginhense, 59 anos, nasceu em 18 de dezembro de 1942 na Vila Barcelona, bairro mais populoso da cidade naquele ano. Seu pai, foi também um dos maiores craques da história do futebol de Varginha, Américo Rodrigues (o Ameriquinho), que jogou muito tempo pelo VEC. Aos 5 anos de idade, Zezé foi com a família morar em Nova Iguacú (Estado do Rio). Participou de várias seleções vargeanas, jogou no infanto do América, Vasco e Botafogo. Teve a honra de trocar passes com grandes nomes do futebol brasileiro como Viladonica e Peçanha (Vasco) e Arlindo (Botafogo).


Mas foi no Madureira que resolveu começar a carreira aos 17 anos e agradou a todos. O clube tomou as providências necessárias e Zezé pode jogar o campeonato carioca de juvenis. Neste tempo, Zezé era amigo muito “chegado” de Horacino Geraldo, o Nêgo Horácio, outro varginhense de destaque que excursionou com o Madureira pela Europa. Eram amigos inseparáveis. Ao completar 18 anos em 1960 Zezé teve seu passe negociado (CR$ 100 mil) com a Esportiva Guaratinguetá, clube que disputava a 1ª Divisão de Profissionais do Estado de São Paulo.
No início do ano de 1964, quando preparava-se para fazer uma excursão pela Europa e Oriente, o Madureira demonstrou interesse em contar com Zezé para reforçar o time e levou-o para treinar. Plácido Monsores, que era o técnico do Madureira, gostou de Zezé, mas a Esportiva pedia Cr$ 500 mil pelo passe do jogador. Cinco vezes mais do que o Madureira tinha recebido ao vender Zezé para o clube paulista. O Fluminense mandou um emissário até Guaratinguetá para manter conversações com o atleta, mas nada ficou acertado. O “passe” de Zezé continuava preso à Esportiva e seu contrato estaria expirando somente no final de 1964.

Foi aí que entrou o empresário José da Gama, que Zezé carinhosamente o chamava de “Padrinho”, tal era o grau de amizade entre os dois. José da Gama, depois de entrar em acordo com Zezé e a Esportiva Guaratinguetá, decidiu leva-lo na delegação do Madureira que iria excursionar durante 5 meses pela Europa, Ásia e África. Juntamente com Zezé, seguiram Miguel e Nenem, para também serem negociados.
Novamente integrado ao time do Madureira em 1964, Zezé iniciou sua projeção internacional. A estreia foi em Kuala Lampur, capital da Malásia, onde realizou dois jogos. Em seguida atuou na Tailândia, Vietnam, Macau, China, Hong Kong, Índia e Irã. Foram longas e cansativas viagens de avião e trem, que levaram Zezé e o time do Madureira aos gramados da Àsia. No primeiro jogo venceu Penang Invitation XI por 5x2, depois empatou com a seleção da Malaia (2x2) e a terceira apresentação em 72 horas, o Madureira venceu a seleção de Singapura por 5x3.
O Madureira na China (Zezé está ao centro)

Por um erro de informação do próprio Zezé que me confirmou ser o Mao Tsé Tung
na foto, infomo a todos que este chinês já foi identificado como sendo um de seus assessores.


Na China, o Madureira jogou contra a seleção de Pequim, Xangai e Catonn, o que causou grande “rebu” no finado CND - Conselho Nacional de Desportos, que ameaçou eliminar o Madureira do rol das associações esportivas legais. A delegação do Madureira não tinha autorização para jogar em países comunistas. Mas não adiantou. Com o estádio lotado, o Madureira manteve a invencibilidade na sua excursão pela Ásia, ganhando de Pequim por 2x1. A impressão causada pela equipe brasileira foi tanta que a Federação de Pequim gratificou os jogadores com 50 yuanes (21 dólares - uma fortuna na época). Zezé, nesta partida, marcou os dois gols do Madureira, que relembrando Zagalo, foi escalado como ponteiro-esquerdo. O sucesso alcançado nesta excursão aumentou o assédio de grandes clubes na contratação de Zezé, não só os clubes brasileiros como também os europeus tentaram uma negociação.

O FUTEBOL ALEMÃO TEM UM NOVO ÍDOLO
Zezé revelou-se artilheiro e despertou o interesse de Sampdória e Nápoli na sua contratação. Enquanto isso, o São Paulo F.C. perdia - por contusão - seu ponta-esquerda Paraná. Zezé foi emprestado ao clube e jogou contra o Milan de Mazzola, Amarildo, Dino Sani e Germano. Esta partida terminou 1x0 para o São Paulo.


Laudo Natel, presidente do São Paulo na época, tentou comprar o passe de Zezé. A recusa do atleta foi devido ao compromisso com o empresário José da Gama que achava financeiramente melhor que ele fosse negociado com o futebol europeu.


Zezé então, foi para a Fiorentina por empréstimo. Jogou ao lado do grande Amarildo por 2 meses. Foi aclamado pela imprensa italiana como o segundo jogador brasileiro a jogar pela Fiorentina. Zezé só não foi contratado em virtude da elevada taxa de 35 milhões de liras que a entidade italiana cobrava para o registro de estrangeiros.


Em julho de 1964, ao retornar a Turim, Zezé recebe um telefonema de José da Gama que diz ter acabado de fechar contrato com o 1.FC Köln (Colônia) da Alemanha. Ganhando 300 dólares por mês, mais despesas de casa e comida. 



Zezé começou a jogar pelo Colônia, campeão da Alemanha Ocidental (antes da unificação). Zezé ficou muito satisfeito com a ida para o futebol alemão e todos que o viram jogar repetem que Zezé se transformaria na sensação do campeonato e foi o primeiro jogador brasileiro a ser contratado pelo futebol alemão. Na transação, a Esportiva Guaratinguetá ganhou cerca de dez milhões de cruzeiros.

A estreia do atacante varginhense no 1.FC Köhn (Colônia) foi contra o Trovile, da França. Ganhou o Colônia por 8x0, tendo Zezé marcado 4 gols. Na Alemanha a primeira apresentação de Zezé foi contra o Schailk 04, da cidade de Gelsenkirchen. Nova vitória do Colônia, desta vez por 2x0. Zezé novamente deixou a sua marca, fazendo um dos gols.


Zezé confessa que estranhou bastante a temperatura nos primeiros dias:  "O frio em Colônia é rigoroso, chegando a quatro graus negativos". Tem também o problema do idioma: “Como se passa mal por causa disso! Quando voltei ao Brasil poderia ter me tornado mímico, pois nunca gesticulei tanto em minha vida. Mas passei a compreender alguma coisa”, disse Zezé.



O sucesso de Zezé na Alemanha facilitou a ida de Miguel, ex-goleiro do Vasco e Botafogo para seu clube, além de abrir caminho para companheiros seus. “Fiquei muito alegre quando soube que Miguel vinha jogar no Colônia, afinal de contas, só conseguia conversar quando ia para casa, porque no clube tinha sempre que me fazer compreender por gestos e sinais”, complementa Zezé.

Em 3 de outubro de 1964 casou com Dorly da Costa Ferraz Rodrigues, que é de São Paulo. Apesar do frio, ela se adaptou muito bem e ficou muito satisfeita com o tratamento que os dois receberam. Zezé ficou no Colônia por 11 meses, sendo campeão nesta temporada e chegou a jogar contra Puskas, Mazopuste, Copas, Eusébio, Bob Moore, Bob Charlton e na despedida de Sir Stanley Matheus, jogou ao lado deste importante craque europeu.



Na Alemanha Zezé tornou-se um ídolo e foi considerado como uma das principais peças do Colônia. Seu poder de inovação fez e garantiu o sucesso do primeiro jogador brasileiro no futebol alemão.
Mas, o frio e a neve (pavor de Zezé) ajudou para que o craque não se adaptasse ao futebol alemão. Ele declarou ao desembarcar no Brasil com sua esposa Dorly, que estava grávida em maio de 1965: “... o motivo de minha desistência foi o de não ter me adaptado ao futebol alemão, que é muito violento, além de não ter resistido ao frio. Quando jogava no Colônia a tática do time era 9-1, ou seja, todos na defesa e eu sózinho atacando”, acrescentou ainda que “ultimamente a técnica do time melhorou um pouco, depois que eu expliquei a eles o que é 4-3-3.




Zezé na Fiorentina da Itália

Ao chegar no Brasil, Zezé ainda não sabia em qual time iria jogar. Antes de sua partida para a Alemanha, o São Paulo estava interessado em seu passe. Ele passou alguns dias na casa de seus pais em Nova Iguaçu só depois foi procurar o treinador do São Paulo, Otto Vieira para acertar sua transferência para aquele clube. Mas Otto Vieira estava para deixar o São Paulo e avisou Zezé para que não assinasse com o clube, pois pretendia levá-lo para a Portuguesa Santista. 


Zezé permaneceu na Portuguesa até 1967, quando estava para assinar contrato com o Palmeiras, foi procurado por um dirigente da Portuguesa para que jogasse uma partida beneficente. Foi aí que aconteceu a ruptura dos ligamentos de seu joelho, que o deixou mais de um ano sem jogar e ainda por cima, sem nenhuma garantia, nem contrato, pois ainda não tinha assinado com o Palmeiras. Foi uma fase negra na sua vida, onde foi obrigado a gastar toda sua economia de anos de luta para se manter e custear seu tratamento.

Foi no Santo André que Zezé retornou às atividades. Foi o primeiro jogador profissional a integrar aquela equipe paulista. Ficou mais de um ano parado e em 1968 retorna para mostrar sua arte em gramados brasileiros. Em 1969, ele foi negociado com o Rio Branco Sport Clube de Paranaguá. Outro time na sua carreira e que disputava a divisão principal do futebol paranaense. Mas devido à situação financeira lastimável do clube paranaense, Zezé, a vedete do Rio Branco foi negociado com outro clube de Paranaguá, o Seleto, também integrante da divisão principal do Estado.


O Atlético Paranaense estava de olho em Zezé há tempos. E na primeira oportunidade contratou o craque. Zezé foi jogar ao lado de Dijalma Santos e Sucupira. Mas, devido também a uma situação financeira delicada que o clube passava, Zezé deixou o Paraná e foi jogar no Bangú.


Em 1970, para a alegria dos varginhenses e torcedores do Flamengo, Zezé veio para Varginha e encontrou o esquadrão flamenguista, recém-campeão da Divisão de Acesso e integrou-se ao plantel. Jogou quase todas as partidas do Campeonato Mineiro de 1970. Ele também jogou em Varginha em 1961, quando ainda pertencia ao Madureira. Passou duas semanas na cidade e entre as partidas memoráveis que realizou, aponta o jogo contra o América de Nepomuceno, onde ele marcou 3 gols, Linquinho fez 2 e Dijalma também 2. Final 7x0 para o Flamengo. A respeito do futebol de Varginha, Zezé considera Nêgo Horácio, Linquinho e Duza, os melhores jogadores que ele viu jogar por aqui.


Em julho de 1970, depois da Copa do Mundo, Zezé deixou o Flamengo de Varginha e retornou para o Rio. Zezé Moreira chegou a procurá-lo e garantir colocá-lo em algum clube carioca, mas queria participação nas luvas. Zezé não se interessou e chegou a estudar uma proposta do Flamengo carioca. Mas, o seu passe ainda pertencia ao Colônia, que dispensou o jogador que sofria com uma intensa alergia pela neve e o frio. Chegou a fazer tratamento. Mas como a diretoria do clube alemão, não queria ver Zezé jogando por outro clube europeu - havia interesse do Ajax da Holanda - ficou com o passe preso e até hoje Zezé pertence ao Colônia da Alemanha.


Desgostoso com o futebol, Zezé resolver virar empresário e montou uma mercearia (Mini-Box). Em 1976 voltou para Varginha e começou a trabalhar no Solúvel, depois F.L. Smith e por fim na Via Engenharia até a aposentadoria.


No ano de 2000, seu clube na Alemanha, 1.FC Köln, comemorou 50 anos de fundação e através de uma TV VDR da Alemanha, veio buscar Zezé para ser homenageado. “Foi uma emoção e tanto”, diz Zezé. “Não sabia que a torcida do Colônia fosse lembrar de mim. Um dia estava passeando num shopping e de repente, um casal parou na minha frente e pronunciou Séssé?. Era assim que me chamavam lá. Minutos depois estava rodeado por inúmeras pessoas pedindo autógrafo e me fazendo posar para fotos. Só consegui despistar o povo, quando peguei um táxi para dar uma volta no quarteirão”.


Esta é a trajetória deste craque varginhense que foi o primeiro jogador brasileiro a jogar no futebol alemão. Vieram outros depois: Miguel, Paulo Sérgio, Tita, Jorginho, Dunga, Emerson, Ratinho, Herbert, Júlio César, Lúcio, Marcelinho Paraíba etc., mas fica registrado a inesquecível participação de Zezé pelos campos europeus jogando pelo Colônia.


A HOMENAGEM DA TV ALEMÃ
Na comemoração dos 50 anos do 1.FC Köln (Colônia) teve muita festa e entre as homenagens, o clube veio buscar Zezé para participar do Programa Im Westen Sport da TV VDR da Alemanha. No programa especial, Zezé relembrou, ao lado de craques do time da época como: Wolgang Overath, Heinz Hornig, Wolfgang Weber e Karl-Hanz Thieler, toda a sua experiência no futebol daquele país. Na entrevista, Hannes Löhr frisou que ficava impressionado com o domínio de bola do Zezé. Parecia que ele tinha um imã nos pés.



Foi um momento de alegria e emoção que Zezé diz não esquecer jamais. O carinho e o respeito do torcedor alemão ficará registrado para sempre em sua memória. Zezé faleceu em Varginha. Na foto abaixo Zezé ao lado de um torcedor alemão, quando recebeu a homenagem da TV Alemã.


4 comentários:

  1. Um artigo muito lindo, excelentíssima pesquisa. Obrigado! OA.

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  2. Vocês se equivocaram, quem está cumprimentando o time do Madureira é o marechal Chen Yi e não Mao Tsé-tung.

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  3. Meu amigo querido
    Em Varginha pela ARVV tive alegria e prazer de jogar e aprender muito com ZEZÉ
    Meu amigo

    Ssudades que não acabam!

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